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Esse texto é um pedido de desculpas…

Relatos Não Mono #1

Reflexões e Conexões NãoMono
3 min readJun 5, 2021

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Esse texto é um pedido de desculpas que, com quase toda certeza, não chegará até você.

Faz tempo, né? Nosso último contato foi você tentando, de alguma forma, se desculpar por aquilo e eu te tratando de forma seca. Eu estava tentando te fazer sentir dor, te punir, porque eu estava machucada também.

Uma semana antes, já havíamos marcado de você passar seu aniversário comigo, mas de última hora você disse: “É que meus colegas de trabalho me chamaram para almoçar e minha irmã me pediu para passar na casa do meu pai”. Sim, apenas isso. Nenhum pedido de desculpas. Nada.

E não foi a primeira vez. Encontros e “rolês” cancelados de última hora porque você estava, no meu goianês, “morgado”. As vezes em que fui até sua casa e você estava todo carinhoso, mas depois que a gente transava, você ficava distante. A vez em que você me deixou de lado uma boa parte do tempo para ficar no celular conversando com os outros. Todos nossos compromissos sendo cancelados porque você “estava sem tempo”. Passei meses me sentindo descartável. Apenas uma buceta.

Depois que “terminamos”, senti muita dor. E tudo bateu mais forte quando você postou aquela foto com outra moça na praia. No exato mesmo lugar em que nos encontrávamos. E, mesmo que não goste de admitir, quatro meses depois ainda sinto essa dor.

Agora, estudando a não-monogamia mais a fundo, me pergunto se não te tratei da mesma forma. Não desmarquei compromissos contigo por preguiça, mas já deixei de te chamar pra sair porque “meu namorado precisava de mim”, inclusive em noites em que você estava mal pra caralho. Não ficava distante depois de transarmos, mas visivelmente tratava meu outro relacionamento como mais importante. Você, inclusive, me viu tremer uma vez por medo do término desse outro relacionamento por, em uma única noite, eu não ter agido como ele esperava de mim. Eu não estava também te tratando como descartável?

Me lembro de uma conversa que tivemos em que você me perguntou se outros relacionamentos aquém do casal eram menos importantes e eu, descaradamente, disse que não, sendo que o que eu tinha com ele na época era um relacionamento aberto. Eu ainda me lembro de sua expressão e de como você “murchou” ao dizer as palavras “menos importante”. Como eu poderia querer que você não me tratasse como uma buceta se eu te tratava como apenas um pau?

Gostaria de poder te olhar nos olhos como antes, e te dizer que amadurecemos como indivíduos e como casal e que hoje rejeitamos completamente a ideia de hierarquia nas relações, que toda relação é importante e única, independente de envolver sexo ou não. Que você era e é importante.

As vezes olho sua foto de perfil do WhatsApp e me pergunto como está sua vida, se sua depressão está te atacando menos, se você conseguiu sair daquele emprego bosta e arrumou um melhor, se morar com aquele amigo está te fazendo se sentir menos só, se você realmente começou a terapia, se você conseguiu ter mais contato com seu filho que mora em outro estado — algo que te angustiava tanto.

Ainda dói me lembrar de seu nome e ter ele citado entre uma conversa ou outra. Dói pensar que tudo poderia ter sido diferente.

E aqui vai o que eu tenho guardado com tanto carinho e tanta dor por todo esse tempo:

Eu te amo e sinto sua falta.

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Conscientização sobre a Não Monogamia Ética organizando conteúdo e espaços de reflexão e conexão entre as pessoas que se identificam com o tema.